Alopecia

(uma crônica, será?)

Eu gosto de colecionar palavras. Certo dia vi um nome escrito na página de um livro que comprei num sebo. A palavra era “alopecia”. Eu jurava que ia encontrar uma nova espécie de planta ou flor. Tão bonita e tão rara que poucas pessoas conheceriam. Naquele momento, fui pesquisar no Google e descobri que estava sem internet. A energia do meu bairro tinha caído e como cancelei o plano de celular na quarentena, não consegui pesquisar naquele momento. Passei o dia pensando no significado dessa palavra. Criei toda uma história que certo dia eu teria tropeçado numa “alopecia” e dado de cara com uma árvore milenar, cheia de raízes que penetravam a terra. Na chegada do fim do expediente, me dei conta que nem tinha pesquisado o significado. Mas agora, por um breve momento, fiquei com medo de está enganado. Desisti de pesquisar e guardei minha curiosidade em algum lugar que não conseguiria alcançar. Mas curioso que sou, isso não durou muito. Fiquei remoendo dias, até pintei algumas versões de possíveis significados de “alopecia”. Me contive por quase uma semana, até que pensei: besteira sua não aproveitar da pesquisa rápida, vai lá e descobre isso. Abri o Google. Digitei: A-l-o-p-e-c-i-a. Alopecia. De cara me apareceu: Queda de Cabelo, outros nomes: calvície. Não entendi porque encontraria um sinônimo de “queda de cabelo” em um romance russo. Fiquei refletindo e pensando como criamos nossas próprias narrativas através do que imaginamos acerca do desconhecido. Nossos próprios julgamentos e pré-concepções que geralmente vão de encontro com a realidade e ainda sim, insistimos. Às vezes, insistimos muito. Foi legal colecionar alopecia, essa flor rara, essa árvore milenar cheia de raizes, a calvice. Quem sabe esse palavra tome um lugar presente na minha vida. Espero que não.